17 março 2016

Os Arquétipos


O conceito de arquétipo, adotado por Jung, já era conhecido desde Philo Judaeus, referindo-se à Imago Dei, que seria a imagem divina que existe no ser humano. Irinaeus, por sua vez, segundo Jung, afirmava que O criador do mundo não formou estas coisas diretamente de si mesmo, mas as copiou de arquétipos exteriores.

Em realidade, o arquétipo procede da proposta platônica em torno do mundo das idéias, primordial e terminal, de onde tudo se origina e para onde tudo retorna.

Jung utilizou-se do pensamento platônico para referir-se a imagens universais, que são preexistentes no ser - ou que procedem do primeiro ser - desde os tempos imemoriais.

Permanecem esses símbolos no inconsciente humano, independente de quaisquer outras construções psicológicas, dando-lhe semelhança e até uniformidade de experiência, tornando-se uma representação que perdura imaginativamente. Tais imagens são comuns a todos os povos e características da espécie humana desde os seus primórdios, que surgem espontaneamente e têm várias configurações nos mitos e símbolos de todas as culturas.

A palavra arquétipo se origina do grego arkhe, que significa o primeiro, e typon, que significa marca, cunho, modelo, sendo, por isso mesmo, as marcas ou modelos primordiais, iniciais, que constituem o arcabouço psicológico do indivíduo, facultando a identificação da criatura humana. Existem no ser como herança, como parte integrante do seu processo de evolução.

Muitas vezes esses arquétipos surgem nos sonhos como imagens preexistentes, liberando-se do inconsciente. No entanto, nem todos os símbolos são procedentes dos arquétipos, porque podem ter origem na própria energia do indivíduo, nas suas atuais fixações, traumatismos psicológicos, conflitos, frustrações, ansiedades e desejos. Diferem, os arquétipos, dessa energia inerente ao ser, porque os primeiros têm um caráter universal, enquanto os outros são individuais.

Em se considerando a universalidade dos arquétipos, há uma grande variedade de símbolos que foram classificados por Jung, e posteriormente pelos seus discípulos e sucessores. No entanto, não podem ter um número fixo, porque sempre estão a apresentar-se com características individuais, em variações naturais, decorrentes de padrões e sinais de cada personalidade.

Jung asseverou que o termo alma, adotado pelas religiões, apareceu naturalmente, em razão do arquétipo, que tem a sua contrapartida psicológica. Na mulher, a alma seria masculina, de existência interior, que se casa com Cristo, no conceito da união paulina e do matrimônio religioso da mulher com Jesus, enquanto que, no homem, é feminina, como sendo a sua musa inspiradora, responsável pela beleza poética, literária e artística em geral. Essa representação psicológica aparece nos sonhos como anima para os homens e animus para as mulheres.

Se um indivíduo tem um sonho com o demônio, não significaria necessariamente que estivesse em contato com ele, mas com o arquétipo símbolo do mal, que existe no inconsciente de todos os povos desde a sua origem e permanece através dos milênios. Assim também o anjo, o amor, o ódio e outros são símbolos que sempre existiram no íntimo dos seres e que se transmitem através do inconsciente coletivo, exercendo um papel preponderante na linguagem onírica e no comportamento existencial.

Eles surgem e preponderam na vida psicológica dos indivíduos, sem que os mesmos se dêem conta, aparecendo, inclusive, nos acontecimentos banais, comuns do dia da dia.

Quando alguém se refere a outrem, exaltando-lhe o estoicismo ou citando a covardia, está identificando o arquétipo que vive no seu próprio inconsciente e tem um caráter geral, comum a todos os demais. Assim sendo, sempre é encontrado nos outros aquilo que jaz na própria pessoa, o que lhe facilita o reconhecimento.

As criaturas são todas multidimensionais, possuindo características comuns, resultado da perfeita reunião dos arquétipos que constituem cada individualidade. Isto faculta a compreensão da outra, a sua identificação em valores, qualidades e sentimentos. Normalmente esses arquétipos aparecem envoltos em símbolos místicos, divinos, com características de realidade ou em forma de fantasias, que os sonhos desvelam de maneira determinante.

Concordando, em parte, com o eminente mestre, agregaríamos que muitos símbolos, que se apresentam como arquétipos, provêm de um outro tipo de herança primordial: a da experiência de cada Espírito pelo imenso oceano das reencarnações. Graças às mesmas, são transmitidas as vivências de uma para outra etapa, prevalecendo como determinantes do comportamento aquelas que foram mais vigorosas, assim estabelecendo, no inconsciente individual e profundo, símbolos que emergem no sonho ou durante a lucidez como conflitos variados, necessitados de liberação.

O processo da reencarnação explica a presença dos arquétipos no ser humano, porque ele é herdeiro das suas próprias realizações através dos tempos, adquirindo, em cada etapa, valores e conhecimentos que permanecem armazenados nos refolhos do ser eterno que é.

Enquanto o insigne mestre situa todos os deuses e gênios, heróis e modelos do Panteão grego, inclusive os de outros povos, como sendo a presença dos símbolos geradores dos arquétipos, o estudo das reencarnações demonstra que, mesmo em forma de símbolos, algumas das lendas e mitos presentes na história dos povos são resultantes da inspiração espiritual, de insigbts experimentados por inúmeras pessoas, assim também confirmando a preexistência do Espírito ao corpo e a sua sobrevivência à morte.

Esses tipos primordiais, retiradas as indumentárias das lendas, que pertencem ao desenvolvimento do pensamento nos seus variados níveis de crescimento até alcançar o racional, o lógico, existiram, não somente na imaginação, mas como realidade que a fantasia adornou e perpetuou em figurações mitológicas.

Certamente, como afirma Jung, esses arquétipos aparecem nos sonhos como personalidades divinas, religiosas, portadoras de conteúdos transcendentais e se apresentam como sobrenaturais, invencíveis. Em muitas circunstâncias, porém, são encontros com seres transpessoais, que sobrevivem à morte e que habitam, não só o mundo das idéias, da concepção platônica, mas o da energia, precedente ao material, ao orgânico, que é causai e atemporal.

Podemos, portanto, em uma visão transpessoal dos acontecimentos, associar os arquétipos a outro tipo de realidade vivida e ínsita no inconsciente profundo - o Espírito - ditando os comportamentos da atualidade, que são as experiências espirituais, parapsíquicas e mediúnicas.

Aprofundar a busca no oceano do inconsciente para eliminar os conflitos decorrentes das várias ocorrências passadas — as atuais e as das reencarnações anteriores — conseguir a individuação, eis a meta que aguarda aquele que deseja estar desperto, consciente da sua realidade e que luta em favor da sua iluminação interior e felicidade total.


Livro Vida

09 março 2016

A Luta Necessária

A LUTA NECESSÁRIA 
Joio e Trigo

Infelizmente a maioria das criaturas não gosta de reconhecer os seus limites. A vaidade e a ambição levam muita gente a dar passos mais largos do que as pernas permitem. É o que hoje vemos, de maneira assustadora, em nossos meios espirituais.. Os casos de fascinação multiplicam-se ao nosso redor. Pessoas que podiam ser úteis se transformam em focos de confusão e perturbação, entravando a marcha de muitos trabalhadores na senda do bem  com a sustentação de teorias absurdas que levam o evangelho  ao ridículo. Em nosso país esses casos se tornam mais graves por causa da falta geral de cultura. As pessoas incultas e ingênuas se deixam levar muito facilmente ao fanatismo, ante o brilho fictício de pessoas inteligentes e cultas, mas dominadas por fascinações perigosas.


A mania do cientificismo vem produzindo grandes estragos no  ensinamento  do evangelho. Qualquer possuidor de diplomas de curso superior se julga capacitado a transformar-se em cientista  do dia para a noite. E logo consegue uma turma de adeptos vaidosos, prontos a seguir o iluminado que lhes empresta um pouco do seu falso brilho. O desejo de elevar-se acima dos outros, conhecendo mais e sabendo mais, é praticamente incontrolável na maioria das pessoas. O resultado é o que vemos. Há mais joio do que trigo na  seara dos trabalhadores da luz.


A luta contra essa situação é das mais árduas. Mas, árdua ou não, tem de ser enfrentada pelos que vêem as coisas de maneira mais clara. Temos de ferir suscetibilidades, magoar o amor próprio de amigos e companheiros, levantar no próprio meio espiritual  inimigos gratuitos, provocar revides apaixonados. Mas, de duas, uma: ficamos com a verdade ou ficamos com o erro, defendemos os preceitos do  evangelho do Cristo  ou nos acomodamos na falsa tolerância, clamando por uma paz de pantanal, que nada mais é do que covardia e traição à verdade. Aí estão, diante de nossos olhos, as fascinações da vaidade nos empatando os caminhos da evolução natural e necessária dos preceitos do evangelho. 


Podemos enumerar as mais acentuadas e nefastas vertentes:  O Divinismo ou Espiritismo Divinista,  o espiritualismo e mestres ascencionados falsos, e que são o oposto da verdadeira doutrina do evangelho do Cristo,  contradizem a própria essência racional do Cristianismo e do Espiritismo; o ramatisismo que ainda hoje não foi completamente eliminado da sua estrutura; o heterodoxismo ou armondismo  andam de mãos dadas com o ramatisismo; a teoria do continuum mediúnico, que vem de fora, com ares de teoria sociológica, estabelecendo confusões, com suposto apoio científico, entre Espiritismo e Umbanda; o andreluizismo, que à revelia de André Luiz é sustentado por instituições que se apoiam na caridade para desviar adeptos ingênuos da verdadeira compreensão doutrinária; e outras subcorrentes que amanhã se tornarão fortes e dominadoras, se não forem sustadas a tempo.


Todos esses movimentos se valem de uma arma contra os que perseveram no campo limpo da doutrina: a acusação de sectarismo. Fazem seitas e acusam os outros de sectários. Clamam pelo direito de alargar e arejar os conceitos fundamentais evangélicos, sem que os seus expoentes se lembrem de que não possuem condições culturais para essa tarefa de gigantes. Afrontam e amesquinham os preceitos do evangelho na vaidosa suposição de que o estão praticando, quando não o deturpam  abertamente, com o menosprezo ao seu objetivo  espiritual e à sua qualificação... Não foram ainda capazes de encarar esta obra  sem pensar primeiro em si mesmos e nas suas supostas capacidades culturais ou supostas habilitações espirituais


Em meio a esse panorama de confusões, mutilado em suas pretensões iniciais, mas ainda atuando em desvios estratégicos, subsiste a ameaça do espiritualismo corpuscular. E ao seu lado surgem outros movimentos pseudoculturais, com sua direção entregue às mãos de um leigo, a suscitar inovações aberrantes na prática doutrinária, em nome de uma suposta evolução, e uma onda de culturalismo místico que se opõe à restauração do verdadeiro Evangelho nos quadros de instituições representativas da verdadeira doutrina.


Fica a critério  de cada um dos trabalhadores da senda, usar do discernimento.


(Observações a luz do Evangelho)