Evangelho de 03.04.2012
6 – Venho ensinar e consolar os pobres
deserdados. Venho dizer-lhes que elevem sua resignação ao nível de suas provas;
que chorem, porque a dor no Jardim das Oliveiras, mas que esperem, porque os
anjos consoladores virão enxugar as suas lágrimas.
Trabalhadores, traçai o vosso sulco. Recomeçai no dia seguinte a rude jornada
da véspera. O trabalho de vossas mãos fornece o pão terreno aos vossos corpos,
mas vossas almas não estão esquecidas: eu, o divino jardineiro, as cultivo no
silêncio dos vossos pensamentos.
Quando soar a hora do repouso, quando a trama
escapar de vossas mãos, e vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis surgir
e germinar em vós a minha preciosa semente. Nada se perde no Reino de nosso
Pai. Vossos suores e vossas misérias formam um tesouro, que vos tornará ricos
nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas, e onde o mais desnudo
entre vós será talvez o mais resplandecente.
Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são
os meus bem-amados. Instrui-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das
revoltas e vos ensina o objetivo sublime da prova humana. Como o vento varre a
poeira, que o sopro dos Espíritos dissipe a vossa inveja dos ricos do mundo,
que são freqüentemente os mais miseráveis, porque suas provas são mais
perigosas que as vossas.
Estou convosco, e meu apóstolo vos ensina. Bebei na
fonte viva do amor, e preparai-vos, cativos da vida, para vos lançardes um dia,
livres e alegres, no seio daquele que vos criou fracos para vos tornar
perfeitos, e deseja que modeleis vós mesmos a vossa dócil argila, para serdes
os artífices da vossa
imortalidade.
ESPÍRITO DE VERDADE
Bordeaux, 1861
7 – Eu sou o grande médico das almas, e venho trazer-vos o
remédio que vos deve curar. Os débeis, os sofredores e os enfermos são os meus
filhos prediletos, e venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, todos vós que sofreis
e que estais carregados, e sereis aliviados e consolados.
Não procureis alhures
a força e a consolação, porque o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige aos
vossos corações um apelo supremo através do Espiritismo: escutai-o. Que a
impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade, sejam extirpados de vossas almas
doloridas.
São esses os monstros que sugam o mais puro do vosso sangue, e vos
produzem chagas quase sempre mortais. Que no futuro, humildes e submissos ao
Criador, pratiqueis sua divina lei. Amai e orai. Sede dócil aos Espíritos do
Senhor. Invocai-o do fundo do coração. Então, Ele vos enviará o seu Filho
bem-amado, para vos instruir e vos dizer estas boas palavras: “Eis-me aqui;
venho a vós, porque me chamastes!
8 – Deus consola os humildes e dá força
aos aflitos que a suplicam. Seu poder cobre a Terra, e por toda parte, ao lado
de cada lágrima, põe o bálsamo que consola. O devotamento e a abnegação são uma
prece contínua e encerram profundo ensinamento: a sabedoria humana reside
nessas duas palavras.
Possam todos os Espíritos sofredores compreender estas
verdades, em vez de reclamar contra as dores, os sofrimentos mortais, que são
aqui na Terra o vosso quinhão. Tomai, pois, por divisa, essas duas palavras:
devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres
que a caridade e a humildade vos impõe.
O sentimento do dever cumprido vos dará
a tranquilidade de espírito e a resignação. O coração bate melhor, a alma se
acalma, e o corpo já não sente desfalecimentos, porque o corpo sofre tanto
mais, quanto mais profundamente abalado estiver o espírito.
Capitulo VI
O Cristo consulador
Evangelho segundo o Espiritismo
Jesus no Lar
A jornada redentora
Aberta a doce conversação da noite, em torno da Boa Nova,a esposa de Zebedeu perguntou, reverente, dirigindo-se a Jesus:
— Senhor, como se verificará nossa jornada para o
Reino Divino?
O Cristo pareceu meditar alguns momentos e explanou:
— Num vale de longínquo país, alguns judeus cegos de
nascença habituaram-se à treva e
à miséria em que viviam, e muitos anos permaneciam na
furna em que jaziam mergulhados,
quando iluminado irmão de raça por lá passou e
falou-lhes da profunda beleza do Monte Sião,
em Jerusalém, onde o povo escolhido adora o Supremo
Pai. Ao lhe ouvirem a narrativa, todos
os cegos experimentaram grande comoção e lastimaram a
impossibilidade em que se mantinham.
O vidente amigo, porém, esclareceu-lhes que a situação
não era irremediável. Se tivessem
coragem de aplicar a si mesmos determinadas
disciplinas, com abstinência de variados
prazeres de natureza inferior a que se haviam
acostumado nas trevas, poderiam recobrar o contacto
com a luz, avançando na direção da cidade santa.
A maioria dos ouvintes recebeu as sugestões com
manifesta ironia, assegurando que os
progenitores e outros antepassados haviam sido
igualmente cegos e que se lhes afigurava impossível
a reabilitação dos órgãos visuais.
Um deles, porém, moço corajoso e sereno, acreditou no
método aconselhado e aplicouo.
Entregou-se primeiramente às disciplinas apontadas e,
depois de quatro anos de meditações,
trabalho intenso e observação pessoal da Lei, com jejuns
e preces, obteve a visão.
Quase enlouqueceu de alegria.
Em êxtase, contou aos companheiros a sublimidade da
experiência, comentando a largueza
do céu e a beleza das árvores próximas; contudo,
ninguém acreditou nele.
Não obstante ser tomado por demente, o rapaz não
desanimou.
Agora, enxergava o caminho e conseguiria avançar.
Ausentou-se do vale fundo, mas, sem qualquer noção de
rumo, vagueou dias e noites,
em estado aflitivo. Atacado por lobos e víboras em
grande número, usava a maior cautela, reconhecendo
a própria inexperiência, até que, em certa manhã,
abeirando-se de um esconderijo
cavado na rocha, para colher mel silvestre, foi
aprisionado por um ladrão que lhe exigiu a bolsa;
entretanto, como não possuísse dinheiro, deixou-se
escravizar pelo malfeitor que durante
cinco anos sucessivos o reteve em trabalho incessante.
O servo, porém, agiu com tamanha
bondade, multiplicando os exemplos de abnegação, que o
espírito do perseguidor se modificou,
fazendo-se mais brando e reformando-se para o bem,
restituindo-lhe a liberdade.
Emancipado de novo, o crente fiel recomeçou a jornada,
porque a ânsia de alcançar o
templo divino povoava-lhe a mente.
Pôs-se a caminho, distribuindo fraternidade e alegria
com todos os viajores que lhe cruzassem
a estrada, mas, atingindo um vilarejo onde a
autoridade era exercida com demasiado
rigor, foi encarcerado como sendo um criminoso
desconhecido; no entanto, sabendo que seria
traído pelas próprias forças insuficientes, caso
buscasse reagir, deixou-se trancafiar até que o
problema fosse resolvido, o que reclamou longo tempo.
Nunca, entretanto, se revelou inativo
no exercício do bem. Na própria cadeia que lhe feria a
inocência, encontrou vastíssimas oportunidades
para demonstrar boa-vontade, amor e tolerância,
sensibilizando as autoridades, que o
libertaram enfim,.
O ideal de atingir o santuário sublime absorvia-lhe o
pensamento e prosseguiu na marcha;
todavia, somente depois de vinte anos de lutas e
provas, das quais sempre saía vitorioso, é
que conseguiu chegar ao
Monte Sião para adorar o Supremosenhor.
O Mestre interrompeu-se, vagueou o olhar pela sala
silenciosa e rematou:
— Assim é a caminhada do homem para o Reino Celestial.
Antes de tudo, é preciso reconhecer a sua condição de
cego e aplicar a si mesmo os remédios
indicados nos mandamentos divinos. Alcançado o
conhecimento, apesar da zombaria
de quantos o rodeiam em posição de ignorância, é
compelido a marchar por si mesmo, e sozinho
quase sempre, do escuro vale terrestre para o monte da
claridade divina, aproveitando
todas as oportunidades de servir, indistintamente,
ainda mesmo aos próprios inimigos e perseguidores.
Quando o seguidor do bem compreende o dever de
mobilizar todos os recursos da
jornada, em silêncio, sem perda de tempo com
reclamações e censuras, que somente denunciam
inferioridade, então estará em condições de alcançar o
Reino, dentro do menor prazo, porque
viverá plasmando as próprias asas para o vôo divino,
usando para isso a disciplina de si
mesmo e o trabalho incessante pela paz e alegria de todos.
Livro nosso Lar: Francisco Cândido Xavier
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