ERASTO
Paris, 1862
9 – Desconfiai dos falsos profetas!
Esta recomendação é útil em todos os tempos, mas sobretudo nos momentos
de transição, em que, como neste, se elabora uma transformação da
humanidade. Porque nesses momentos uma multidão de ambiciosos e
farsantes se arvoram em reformadores e messias. É contra esses impostores que se deve estar em guarda, e o dever de todo homem honesto é desmascará-los(1). Perguntareis, sem dúvida, como se pode conhecê-los, e eis aqui os seus sinais:
Não
se confia o comando de um exército senão a um general hábil e capaz de o
dirigir. Acreditais que Deus seja menos prudente que os homens? Ficai
certos de que Ele só confia missões importantes aos que sabe que são
capazes de cumpri-las, porque as grandes missões são pesados fardos, que
esmagariam os carregadores demasiado fracos. Como em todas as coisas,
também nisto o mestre deve saber mais do que o aluno. Para fazer avançar
a humanidade, moral e intelectualmente, são necessários homens
superiores em inteligência e moralidade! Eis por que são sempre
Espíritos já bastante avançados, que fizeram suas provas em outras
existências, os que se encarnam para essas missões; pois se não forem
superiores ao meio em que devem agir, nada poderão fazer.
Assim
sendo, concluireis que o verdadeiro missionário de Deus deve provar que
o é pela sua superioridade, pela suas virtudes, pela sua grandeza,
pelos resultados e a influência moralizadora de suas obras. Tirai ainda
esta outra conseqüência: se ele estiver, pelo seu caráter, pelas suas
virtudes, pela sua inteligência, abaixo do papel que se arroga, ou do
personagem cujo nome utiliza, não passa de um farsante de baixa classe,
que não sabe sequer imitar o seu modelo.
Outra
consideração a fazer é a de que a maior parte dos verdadeiros
missionários de Deus ignoram que o sejam. Realizam aquilo para que foram
chamados, graças ao poder de seu próprio gênio, secundados pelo poder
oculto que os inspira e os dirige, à sua revelia, e sem que o tivessem
premeditado. Numa palavra: os verdadeiros profetas se revelam pelos
seus atos e são descobertos pelos outros, enquanto os falsos profetas se
apresentam por si mesmos como enviados de Deus. Os primeiros são
humildes e modestos; os segundos, orgulhosos e cheios de si, falam com
arrogância, e como todos os mentirosos, parecem sempre receosos de não
serem aceitos. Já se viram desses impostores apresentarem-se como
apóstolos do Cristo, outros como o próprio Cristo, e, para vergonha da
humanidade, encontraram pessoas bastante crédulas para aceitarem as suas
imposturas. Uma observação bem simples, entretanto, bastaria para abrir
os olhos aos mais cegos: se o Cristo reencarnasse na Terra, o faria com
todo o seu poder e todas as virtudes, a menos que se admita, o que
seria absurdo, que ele houvesse degenerado. Ora, da mesma maneira que se
tirarmos a Deus um dos seus atributos, já não teremos Deus, se tirarmos
uma só das virtudes do Cristo, não mais o teremos.
Esses
que se apresentam como o Cristo revelam todas as suas virtudes? Eis a
questão. Observai-os, sondai-lhes os pensamentos e os atos, e
verificareis que lhes faltam sobretudo as qualidades distintivas do
Cristo: a humildade e a caridade, enquanto lhes sobram as que ele não
tinha: a cupidez e o orgulho. Notai ainda que neste momento existem, em
diversos países, muitos pretensos cristos, como há também numerosos e
pretensos Elias, supostos São João ou São Pedro, e que necessariamente
não podem ser todos verdadeiros. Podeis estar certos de que aos
exploradores da credulidade, que acham cômodo viver às expensas daqueles
que lhes dão ouvidos.
Desconfiai,
portanto, dos falsos profetas, sobretudo numa época de renovação,
porque muitos impostores se apresentarão como enviados de Deus. São os
que buscam uma vaidosa satisfação sobre a Terra, mas podeis estar certos
de que uma terrível justiça os espera!
Prodígios dos Falsos Profetas
“Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão
prodígios e sinais espantosos, para enganarem até mesmo os escolhidos”.
Essas palavras dão o verdadeiro sentido da palavra prodígio. Na
acepção teológica, os prodígios e os milagres são fenômenos
excepcionais,que escapam às leis da natureza. Estas leis, tendo sido
estabelecidas exclusivamente por Deus, não há dúvida que podem ser
derrogadas por Ele, quando lhe aprouver. O simples bom-senso nos diz
porém, que Ele não pode haver conferido a seres inferiores e perversos
um poder igual ao seu, e menos ainda o direito de desfazerem o que Ele
fez. Jesus não podia consagrar esse princípio. Se acreditarmos,
portanto, segundo o sentido que se atribui àquelas palavras, que o
Espírito do Mal tem o poder de fazer tais prodígios, que até mesmo os
escolhidos seriam enganados, disso resultaria que, podendo ele fazer o
mesmo que Deus faz, os prodígios e os milagres não são privilégios
exclusivos dos enviados de Deus, e por isso nada provam, desde que, nada
distingue os milagres dos santos dos milagres dos demônios. É pois
necessário buscarmos um sentido mais racional para aquelas palavras.
Aos
olhos do povo, todo fenômeno cuja causa é desconhecida passa por
sobrenatural, maravilhoso e miraculoso. Conhecia a causa, reconhece-se
que o fenômeno, por mais extraordinário que pareça, não é mais do que a
aplicação de uma determinada lei da natureza. É assim que a área dos
fatos sobrenaturais se restringe, à medida que se amplia a das leis
científicas. Desde todos os tempos, certos homens exploram, em proveito
de sua ambição, de seus interesses e de seu desejo de dominação, certos
conhecimentos que possuíam, para conseguirem o prestígio de um poder
supostamente sobre humano ou de uma pretensa missão divina.
São
esses os falsos cristos e os falsos profetas. A difusão dos
conhecimentos vem desacreditá-los, de maneira que o seu número diminui, à
medida que os homens se esclarecem. O fato de operarem aquilo que, aos
olhos de algumas pessoas, parece prodígio não é, portanto, nenhum sinal
de missão divina. Esses prodígios podem resultar de conhecimentos que
qualquer um pode adquirir, ou de faculdades orgânicas especiais, que
tanto o mais indigno como o mais digno podem possuir. O verdadeiro
profeta se reconhece por características mais sérias, exclusivamente de
ordem moral.
Capitulo XXI
Evangelho Segundo o Espiritismo
Haverá falsos Cristos e Falsos Profetas.
Item 5,9
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